Dra. Flávia Pacheco

Flancos (“pneuzinhos”): por que essa região resiste à dieta e como tratar

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Visão geral — por que os “pneuzinhos” são tão teimosos?

Como cirurgiã plástica, é muito comum ouvir: “Doutora, eu emagreço, mas os pneuzinhos não saem.” Essa percepção tem base biológica. A gordura dos pneuzinhos (lateral do abdômen/“cintura alta” e junção com o dorso) é predominantemente subcutânea — a que você “belisca” — e responde de modo diferente à mobilização do que outros depósitos. Além disso, homens e mulheres têm mapas de gordura distintos, modulados por genética e hormônios. Estudos clássicos mostram que diferentes regiões de gordura têm sensibilidade diversa à lipólise (quebra de gordura), com variações nos receptores adrenérgicos e na resposta às catecolaminas; é uma das razões pelas quais certas áreas “guardam” gordura com mais teimosia. (JCI)

Outra peça do quebra-cabeça: não escolhemos onde o corpo perde gordura primeiro. A ideia de “emagrecer um ponto específico” apenas treinando aquele ponto — o chamado spot reductionnão se sustenta de forma consistente na literatura: a redução acontece de maneira global, influenciada por genética, hormônios e balanço energético; treinos podem mudar composição corporal e formato muscular, mas não obrigam a gordura de um único local a “derreter”. (The University of Sydney)

Para completar, o ciclo de vida importa. Após a menopausa, por exemplo, há tendência a maior acúmulo central (abdômen/cintura), independente de variações grandes de peso total, pela mudança hormonal. Isso ajuda a explicar “pneuzinhos” mais resistentes ao longo do tempo. (PubMed)

Tradução prática: pneuzinhos persistentes não significam “falha” pessoal. São, muitas vezes, uma assinatura biológica de distribuição de gordura — e por isso o manejo requer estratégia correta.


Subcutânea x visceral: qual gordura forma os “pneuzinhos”?

  • Subcutânea: fica logo abaixo da pele (é a que beliscamos). É a principal responsável pelos “pneuzinhos” e pode ser tratada com lipoaspiração e algumas técnicas não cirúrgicas. (Cleveland Clinic)
  • Visceral: fica profunda, ao redor de órgãos internos. Não é tratável com lipoaspiração ou tecnologias externas; melhora com estilo de vida e, quando indicado, médico/nutricional. (Mayo Clinic)

Saber o que é subcutânea (pode ser remodelada) e o que é visceral (precisa de estratégia metabólica) é decisivo para definir expectativas realistas e plano de tratamento. (Mayo Clinic)


Por que dieta e treino, às vezes, não bastam?

  1. Mapas hormonais e receptores: há regiões com maior atividade α2-adrenérgica (antilipolítica) ou menor sensibilidade β-adrenérgica (pró-lipólise), reduzindo a mobilização local de gordura com o mesmo estímulo. Isso já foi demonstrado em comparações entre abdome e áreas glúteo-femorais. (JCI)
  2. Mudanças de fase da vida: transição menopausal e queda de estrogênio redistribuem gordura para o tronco (abdômen/pneuzinhos). (PubMed)
  3. Genética e hábito: mesmo com déficit calórico, o corpo decide de onde tirar primeiro; treinos modelam músculo, melhoram sensibilidade à insulina e a saúde geral, mas não “esvaziam” uma prateleira específica à força. (Frontiers)

Importante: isso não invalida dieta e treino — pelo contrário. Eles melhoram composição corporal e potencializam resultados de qualquer técnica de contorno. Mas, para bolsões persistentes nos pneuzinhos, faz sentido discutir opções complementares.


O que funciona para flancos (“pneuzinhos”) — um panorama honesto

1) Cirúrgico — Lipoaspiração dos pneuzinhos (com ou sem “lipo 360”)

  • Indicações: paciente saudável, com IMC adequado, peso estável e gordura subcutânea localizada nos pneuzinhos, que não cede mesmo após estratégia correta de estilo de vida.
  • Tecnologias de apoio:
    • Tumescente/SAL (padrão-ouro clássico);
    • PAL (power-assisted), melhora eficiência e regularidade;
    • UAL/VASER (ultrassom-assistida), útil em áreas fibrosas e para transições finas, desde que respeitado o plano para reduzir risco de seroma/queimadura. (Mayo Clinic)
  • Limites de segurança: referência tradicional considera ≥5 L como lipo de grande volume, exigindo vigilância mais alta; hoje, parte da literatura sugere um limiar relativo por IMC, reforçando a individualização. Escolha do ambiente, equipe e volume é caso a caso. (American Society of Plastic Surgeons)
  • O que não promete: não trata gordura visceral, celulite ou hábitos; resultados mudam se houver ganho de peso. (Mayo Clinic)

2) Não cirúrgico — Redução por energia (o que serve para pneuzinhos)

  • Criolipólise (ex.: CoolSculpting®):evidências de redução de gordura nos pneuzinhos com aplicadores específicos; resultados são modestos e graduais, e, raramente, pode ocorrer hiperplasia adiposa paradoxal (PAH), aumento paradoxal do volume no local — complicação rara, mas real, tratada com lipo cirúrgica. (PubMed)
  • Laser/Calor/Radiofrequência e outras plataformas: também reduzem modestamente bolsões subcutâneos; escolha depende de avaliação médica, biotipo e expectativas. Guias para leigos do ABCS ajudam a entender diferenças entre tecnologias. (ABCS)
  • Injetáveis (deoxicolato): nos EUA, aprovados apenas para gordura submentoniana (papada)não para pneuzinhos; uso fora do rótulo não é rotina e exige cautela. (FDA Access Data)

Regra de bolso: tecnologias não cirúrgicas entregam reduções menores, em geral com várias sessões. Para volumes pequenos/moderados e quem não pode ou não quer cirurgia, fazem sentido. Para bolsões mais robustos ou busca de mudança mais nítida, a lipo costuma ser a via mais previsível.


Planejamento cirúrgico dos pneuzinhos— o que olho na consulta

  1. Exame e fotografia padronizada (repouso/contração leve) para entender salto de contorno, assimetrias e como o flanco “conversa” com abdômen, dorso e quadril.
  2. Pinch test por quadrantes (espessura do panículo) e qualidade de pele (capacidade de redrapear).
  3. Compatibilidade com “lipo 360°”: muitas vezes, quando a queixa é “cintura quadrada”, o resultado melhora ao tratar pneuzinhos + dorso na mesma lógica, mantendo o contorno coerente em 360°.
  4. Expectativas: explico o que a lipo faz (contorno), o que não faz (emagrecimento/visceral), limites de volume e linha do tempo de edema/assentamento. (Mayo Clinic)

Segurança em primeiro lugar (e sem rodeios)

  • Riscos gerais da lipo: irregularidades, seroma, alteração de sensibilidade; menos comuns: infecção, hematoma, eventos tromboembólicos. Seleção cuidadosa + técnica + ambiente acreditado reduzem risco. (Mayo Clinic)
  • Riscos das tecnologias não cirúrgicas: geralmente leves e transitórios (edema, equimose, parestesia), mas há a PAH na criolipólise — rara, com incidência baixa, porém documentada em pneuzinhos/abdômen/dorso. Discutimos antes para você decidir informada. (PMC)

Passo a passo: como é tratar pneuzinhos na prática

1) Quando o estilo de vida é suficiente

  • Déficit calórico sustentável, treino combinado (força + aeróbio) e sono adequado melhoram composição corporal e circunferência da cintura. Ainda que o corpo não escolha “tirar dos pneuzinhos” primeiro, perder gordura total costuma enxugar também essa região com o tempo. (Frontiers)

2) Quando não cirúrgico faz sentido

  • Pneuzinos pequenos a moderados, pele boa, rotina que não permite afastamento cirúrgico.
  • Expectativa gradual: 1–3 sessões, downtime curto, resultado em semanas a meses. Risco de PAH explicado e consentido. (Dove Medical Press)

3) Quando lipoaspiração é a melhor rota

  • Bolsões evidentes, impacto no caimento da roupa, desejo de definição nítida e resultado previsível.
  • Avalio se vale estender para dorso/abdômen (lipo 360°), pois o olho percebe harmonia — não “fatias” isoladas.
  • Tecnologia (PAL/UAL) como meio, não como fim; a estética manda. Limites de volume respeitados. (American Society of Plastic Surgeons)

Expectativas, resultado e manutenção

  • Pense em contorno, não em quilos. Lipo subtrai volume local, muda silhueta, não é tratamento de peso. Se ganhar peso depois, outras áreas podem “crescer” relativamente mais — o corpo se reorganiza. (Mayo Clinic News Network)
  • A pele precisa acompanhar. Elasticidade adequada é a “metade” do bom resultado; onde há flacidez/estrias importantes, a discussão pode migrar para cirurgia de pele (ex.: lipoabdominoplastia), dependendo do padrão.
  • Manutenção é real. Alimentação, treino e peso estável mantêm o desenho ao longo do tempo — com ou sem cirurgia. (Mayo Clinic)

Perguntas frequentes (FAQ)

1) Existe “exercício para perder só os flancos”?
Não de forma garantida. O spot reduction (perder gordura exatamente onde se treina) não tem suporte consistente. Treinar vale muito para saúde, massa magra e formato muscular, mas a gordura responde de forma global. (The University of Sydney)

2) Lipoaspiração trata gordura “de dentro da barriga”?
Não. Lipo atua na gordura subcutânea. Visceral melhora com conduta clínica e estilo de vida — não é alvo de lipo. (Mayo Clinic)

3) Quantos litros podem ser retirados com segurança?
Não há “número mágico” igual para todos. Como referência, ≥5 L costuma ser classificado como grande volume e exige cautela extra; hoje falamos muito em limiar relativo por IMC e individualização. (American Society of Plastic Surgeons)

4) Criolipólise funciona mesmo nos flancos?
Sim, há estudos com aplicadores específicos mostrando redução nos flancos; porém os resultados são mais sutis que a lipo e podem pedir múltiplas sessões. É crucial discutir riscos raros, como PAH. (PubMed)

5) Injeções “derretem” gordura dos flancos?
As formulações de ácido deoxicólico (como Kybella®) são aprovadas para papada (submento). Não são indicadas para flancos em bula; uso fora do rótulo não é rotina e requer cautela. (FDA Access Data)

6) O que esperar da recuperação da lipo de flancos?
Equimoses/edema por semanas, malha compressiva e retorno gradual às atividades. O contorno assenta ao longo de meses, conforme o edema regride e a pele redrapeia. (Mayo Clinic)


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Linha do tempo sugerida — do primeiro passo ao resultado

  • Semanas 0–8 (base metabólica): ajuste de alimentação, força + cardio, sono, hidratação. Objetivo: reduzir gordura total e estabilizar peso para decidirmos com precisão. (Frontiers)
  • Consulta especializada: exame, fotos, discussão franca de benefícios/limites/risco das opções — não cirúrgicas (criolipólise/outros) x lipo. (ABCS)
  • Execução do plano:
    • Tecnologias não cirúrgicas → 1–3 sessões (depende do caso), retorno quase imediato, evolução lenta. Orientação sobre PAH e sinais de alerta. (PMC)
    • Lipo de flancos (± 360°) → hospital/centro acreditado, técnica escolhida (SAL/PAL/UAL), volume individualizado, malha e seguimento próximo. (American Society of Plastic Surgeons)
  • Manutenção (meses seguintes): estilo de vida, controle de peso e, quando indicado, tratamentos complementares pontuais para textura de pele (quando isso for a queixa).

Como escolho a melhor opção para você

  1. Objetivos e estilo de vida: resultado rápido e nítido (tende à lipo) x gradual e discreto (tende às tecnologias).
  2. Bolsão e pele: flancos finos/moderados com pele boa → tecnologias podem bastar; flancos mais robustos e/ou múltiplas dobras → lipo.
  3. História clínica: comorbidades, IMC, medicações, tabagismo, cirurgias prévias — tudo pesa na segurança.
  4. Harmonia 360°: muitas vezes, tratar apenas os flancos não entrega a cintura que você imagina; considerar dorso e abdômen pode ser decisivo para uma curva natural.

O que não prometo (e por que isso é bom para você)

  • “Secar” gordura visceral: não é alvo de lipo ou aparelho; é médico-metabólico. (Mayo Clinic)
  • Milagres sem manutenção: sem estabilidade de peso e hábitos, o corpo reorganiza gordura no tempo. (Mayo Clinic News Network)
  • Resultados padronizados: cada anatomia tem limites e potenciais. Minha função é esculpir o melhor “você”, não copiar um molde alheio.

Boas práticas de segurança (checklist da cirurgiã)

  • Equipe qualificada e ambiente acreditado.
  • Avaliação clínica completa (risco anestésico, tromboprofilaxia quando indicada).
  • Limite de volume individualizado (referência de grande volume ≥5 L como alerta de risco/monitorização), não “corrida à seringa”. (American Society of Plastic Surgeons)
  • Tecnologia como meio, não como “marca-milagre”: SAL/PAL/UAL têm papéis distintos; escolho a partir da anatomia e do plano.
  • Consentimento informado real, com discussão de benefícios, limites e complicações raras (ex.: PAH na criolipólise). (PMC)

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Conclusão — flancos com naturalidade, técnica e verdade

“Pneuzinhos” são a soma de genética, hormônios e biologia regional da gordura. Dieta e treino seguem sendo o alicerce — por saúde e por composição corporal. Quando persistem bolsões subcutâneos nos flancos, as opções não cirúrgicas (como criolipólise) podem gerar reduções modestas com recuperação mínima, enquanto a lipoaspiração oferece mudança previsível de contorno quando bem indicada. O melhor resultado acontece quando alinhamos expectativas, respeitamos limites de segurança, escolhemos a ferramenta certa para o seu biotipo e cultivamos manutenção.

Se o seu objetivo é cintura mais definida e um encaixe melhor das roupas sem artificializar o corpo, meu papel é mapear a sua anatomia, explicar as rotas e executar com técnica e bom senso — sempre com segurança em primeiro lugar.


Chamada para ação (CTA)

Quer avaliar seus flancos com quem faz disso um trabalho artesanal e seguro?
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Referências essenciais

  • Lipo não é para emagrecimento; riscos gerais e limitesMayo Clinic (visceral x subcutânea; riscos e expectativas). (Mayo Clinic)
  • “Grande volume” e individualização do aspiradoASPS (5 L como marco histórico; proposta de limiar relativo ao IMC). (American Society of Plastic Surgeons)
  • Diferenças regionais na lipólise — estudos clássicos e revisões sobre adipócitos abdominais vs. glúteo-femorais. (JCI)
  • Menopausa e redistribuição central — mudanças de gordura com queda estrogênica. (PubMed)
  • Criolipólise em flancos e PAH — evidência de eficácia em flancos; PAH como complicação rara, porém documentada. (PubMed)
  • Injetáveis (deoxicolato) — indicação: apenas submento (papada) em bula nos EUA; não indicado para flancos. (FDA Access Data)

Observação importante

Este conteúdo é educativo e não substitui consulta médica. Procedimentos devem ser realizados por cirurgião(ã) plástico(a) habilitado(a), em ambiente acreditado, com indicação individualizada e discussão transparente de benefícios, limites e riscos.

Flávia Pacheco é Médica Cirurgiã Plástica membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), formada em Medicina e pós-graduada em Cirurgia Geral pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pós-graduada em Cirurgia Plástica pelo Serviço de Cirurgia Plástica Dr. Ewaldo Bolivar. CRM 146.283 | RQE 72.137